quinta-feira, 28 de julho de 2011

Encontro Marcado


Pablo estava feliz pelo encontro que havia marcado. Ele sabia que, pela conversa que tivera com a garota no outro dia, quando se conheceram, ela estava caidinha na dele. O garoto tinha a esperança de não ter que falar muito, pois era bem tímido, para conseguir conquistar o primeiro beijo da sua vida. No auge dos seus dezessete anos, queria beijar a linda menina que conhecera – ela chamava-se Ana - no ponto de ônibus, quando estava voltando, tarde da noite, da casa da sua avó.

Realmente, ela era linda, tinha os olhos mais convidativos que ele pudera conhecer e, melhor ainda, sentia-se só. Aquilo havia se tornado o ponto chave para a conquista do garoto que nunca beijara ninguém. Pablo, jovem estudante de terceiro ano, saíra de casa, todo perfumado, para encontrar a sua jovem bela. Ele dissera a sua mãe que não se preocupasse, pois voltaria tarde – “Qualquer coisa, te ligo, mãe.” – A mulher, confiante em seu filho, deixou-lhe em liberdade (como sempre o fazia).

O jovem rapaz chegou, meia hora adiantado, e ficou, no mesmo ponto de ônibus, esperando a garota. Algum tempo depois, ela apareceu. Parecia triste, os seus olhos não expressavam mais aquela alegria. Pablo, cavalheiro como era, perguntou-lhe o que havia passado. – “Nada demais.” – Ela havia respondido com um ar de continuação. – “Precisa da minha ajuda? O que houve?” – O garoto insistia em saber. A menina, por sua vez, lhe contou que a sua mãe estava triste e isso a fazia ficar triste também. – “A minha mãe não aceita me perder, não queria que eu viesse...” – Pablo, prontamente, abraçou a garota, beijou-a, na testa, e pediu-lhe a mão direita. – “Não se preocupe, nós iremos lá conversar com ela.” – Ele se prontificou, mas a garota, assustada, disse-lhe que não era necessário.

Pablo insistiu e pediu que a linda menina não lhe negasse isso. – “Sei que posso me apaixonar por você.” – A garota, tocada pela sinceridade do menino, começou a chorar. Ele afagou os seus cabelos, aproximou-se da sua face e lhe deu um beijo bem apaixonado. Sentiu que ela ficava cada vez mais triste, mas queria, de qualquer forma, resolver o problema. Correu para uma pequena árvore, próxima ao ponto, e pegou um pequeno galho redondo. – “Toma, esse é o nosso anel de compromisso... Agora, você é minha.” – Ela chorou com a cena. Pablo insistiu mais uma vez e conseguiu fazer com que a garota, antes irredutível, aceitasse o carinho e que o levasse para a sua mãe.

Os dois continuaram andando pela rua deserta. Pablo não estava acostumado a ficar naqueles lugares. Não tinha medo de nada, nunca havia sido assaltado, mas sabia que era perigoso. Nunca deixaria a sua dama caminhar sozinha àquele horário. Os dois foram passando pelas portas de comércio (já fechadas) e pelas casas com as luzes apagadas. Subiram uma pequena rampa. Chegaram a uma rua ainda mais deserta. A garota parou, olhou pra frente, limpou os olhos e continuou andando. Ele a estava acompanhando. – “Esse é o lugar onde vivemos”. O garoto abriu a porta da casa para a menina, percebeu que se tratava de uma casa bem pobre, quase abandonada. – “A minha mãe está nos fundos, vou chamá-la.” – A garota foi chamar a mãe, e Pablo continuou esperando na sala.

Muitos segundos se passaram, quase um minuto, e o garoto não conseguiu mais ficar parado. Acreditou que a mãe da garota estivesse causando problemas para conhecê-lo. Decidiu adentrar a casa e tomar a iniciativa. Caminhou, passou pela sala, chegou ao corredor, olhou para os lados, viu uma porta aberta. Colocou a cabeça, não encontrou ninguém, apenas uma cama vazia. Continuou andando, chegou ao final do corredor e viu a cozinha. Chamou pelo nome da garota, mas ninguém respondeu. Viu que havia uma porta, na cozinha, que levava a uma área externa. Sabia que as duas estariam ali. Abriu a porta e deu de cara com um pequeno jardim. Ao fundo, havia algumas madeiras cravadas ao chão. Ele manteve os seus passos e se aproximou daquele lugar. Quando chegou perto, pôde ver, então, que a madeira encravada no solo trazia algumas letras. Pôde ler:

“Descansem em paz Sônia e Ana – amáveis mãe e filha.”

8 comentários:

  1. Me lembra muito o Edgar, eu gostei, quando a leitura é boa, fica aquele gosto de quero mais , T.T

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  2. Muito obrigado, L.J. - Espero que possa voltar sempre. É um prazer ser motivo de lembranças ao fantástico Poe. Muito obrigado mesmo.

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  3. Impossível que um bom leitor não goste deste conto ! As características vistas nele são impressionantes,as pausas criadas pelas vírgulas dão um ar poético e sombrio, o cenário como sempre extraordinariamente bem caracterizado, proporcionando uma espécie de cena/filme em nossa mente. As situações envolvidas estão muito bem parafraseada. Não me refiro só a este conto, como também todos que eu já li, agora , chutando o balde ... Você botou pra fuder mais uma vez, ta do caralho !

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  4. Valeu, meu velho.
    Muito obrigado pelos elogios e espero que possa continuar lendo e desfrutando da fruição e do gozo proporcionados pela Literatura...

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  5. Nossa, adorei! Concordo com "L.J" quando disse que deixa um gostinho de quero mais...

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  6. Nem preciso dizer que amei e que já li mais de uma vez. Em tudo que eu puder ajudar para divulgar seu trabalho, pode contar comigo.
    O único problema é que vamos ficar cobrando atualizações constantes no blog. hehe..
    =*

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  7. Marcos meu querido, vc tem o dom, isto é inegável!
    Como costumo dizer: "Vc é o cara" .Pra mim, é uma honra ler e poder comentar suas obras. Exatamente como aconteceu no conto anterior, não só consegui ler, como tb assisti e tem até trilha sonora! A única coisa de muito ruim nos 2 contos,é a falta de continuação. + tenho certeza que faz parte de uma estratégia GENIAL. Quem viver, lerá todas as suas histórias, com começo, meio e THE END.

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  8. haha, arrepiou-me o couro cabeludo. Gostei. :)

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